O sexo biológico é um dos aspectos mais fundamentais da ordem criada por Deus. Desde o princípio, conforme registrado no livro de Gênesis, Deus intencionalmente projetou e criou os seres humanos como homem e mulher. Essa distinção proposital, instituída pelo próprio Deus, é essencial para a nossa identidade humana, para o cumprimento do mandamento divino de sermos frutíferos e nos multiplicarmos, e para a nossa capacidade de refletir com precisão a Sua imagem divina. O sexo biológico, tal como foi originalmente concebido, é muito mais do que uma simples distinção binária e constitui parte da base sobre a qual o plano de Deus para a humanidade foi edificado.
Infelizmente, nos últimos tempos, tem havido um movimento para separar os conceitos de gênero e sexo biológico. Alguns estudos modernos e tendências culturais promovem a ideia de que o gênero é uma construção social maleável, distinta da realidade física e cromossômica de ser homem ou mulher. No entanto, como veremos, essa dissociação entre gênero e o desígnio criativo de Deus traz implicações teológicas profundas. Ela mina a complementaridade estabelecida por Deus entre homem e mulher e priva a sexualidade humana de seu significado e propósito transcendentes. Este artigo explorará o ensinamento claro e consistente da Bíblia sobre sexo e gênero — e por que ele deve permanecer firmemente enraizado na intenção criadora original de Deus para o florescimento humano.
Gênero como desígnio de Deus
Em Gênesis 1:27 lemos: “Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Desde o princípio, a criação da humanidade como homem e mulher ocupa o centro da narrativa. O texto enfatiza que tanto o homem quanto a mulher foram feitos à imagem de Deus — iguais em dignidade, mas distintos em forma e função. O sexo biológico não é um acidente nem um detalhe secundário, mas uma parte essencial de como Deus nos projetou.
Em Gênesis 2, Deus oferece uma visão mais profunda de Sua criação intencional dos dois sexos biológicos. Depois de criar Adão, Deus declara: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gênesis 2:18). Então Deus cria Eva a partir da costela de Adão, como solução para a solidão do homem. Homem e mulher foram criados para se complementar e completar mutuamente. Eva é uma “ajudadora” para Adão, mas não no sentido de inferioridade. A palavra hebraica usada aqui, ezer, também é empregada para descrever a relação de Deus com Israel (por exemplo, em Deuteronômio 33:29). Ela expressa a ideia de uma aliada essencial e parceira. Deus poderia ter criado outro homem como companheiro para Adão, mas escolheu criar uma mulher para demonstrar que é na união dos dois que a imagem de Deus se manifesta plenamente na humanidade. As forças de cada sexo biológico equilibram-se em uma interdependência harmoniosa.

O mandato de ser frutíferos e multiplicar
Logo após criar o homem e a mulher, Deus os abençoa e lhes ordena: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a” (Gênesis 1:28a). Essa instrução é dada dentro do contexto que o próprio Deus havia acabado de estabelecer. A procriação — a geração de nova vida — é parte central do mandamento divino para a humanidade. Mas isso só é possível por meio da união entre o homem e a mulher. O mandamento de “ser frutíferos e multiplicar-se” não se trata apenas de povoar a terra, mas de formar famílias — o ambiente onde as crianças devem nascer e ser cuidadas. Essa multiplicação frutífera da raça humana foi planejada para ocorrer dentro do compromisso vitalício entre um homem e uma mulher. Em seu desígnio, Deus não separa o sexo biológico da procriação.
Ao longo de toda a Bíblia, a união vitalícia e pactual entre um homem e uma mulher é apresentada como o contexto estabelecido por Deus para que a sexualidade seja expressa de forma adequada. Após criar Eva, Deus a conduz até Adão, e o texto declara: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:24). Esse princípio de “deixar e unir-se” estabelece o modelo fundamental do casamento.
No Novo Testamento, Paulo aprofunda essa verdade ao comparar a relação entre marido e esposa à relação entre Cristo e a Igreja (Efésios 5:22-33). O casamento, devidamente compreendido, é uma aliança — um compromisso solene e inquebrável entre um homem e uma mulher, que reflete o amor pactual e fiel de Deus por Seu povo. Ele cria o contexto seguro e estável onde as crianças podem nascer e onde a sexualidade humana encontra sua expressão adequada. Tentativas de redefinir ou relativizar o casamento são, portanto, uma rejeição do modelo estabelecido por Deus.
A distorção do desígnio de deus
Em toda a Escritura, o sexo biológico é essencial para quem somos como seres humanos. Desde o relato inicial da criação até os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, ser homem e mulher é visto como algo inseparável e fundamental para a identidade humana.
Além de Gênesis 1:27, essa distinção essencial se mantém ao longo de todo o Antigo Testamento. Nas genealogias e nas histórias dos patriarcas, homens e mulheres são identificados de acordo com seu sexo biológico, o que também determina seus papéis familiares e sociais. A lei dada a Moisés parte dessa estrutura binária de homem e mulher, atribuindo diferentes responsabilidades religiosas e sociais conforme o sexo (por exemplo, Levítico 12, 15, 18; Números 30).
No Novo Testamento, o próprio Jesus reafirma a ordem da criação — “homem e mulher” (Mateus 19:4; Marcos 10:6) — e parte do princípio da inseparabilidade e distinção entre os sexos biológicos. Ao falar sobre o casamento, Ele o descreve como a união entre homem e mulher (por exemplo, Mateus 19:5-6). O apóstolo Paulo, de forma semelhante, baseia seus ensinamentos sobre a família e a igreja (Efésios 5:22-33; 1 Timóteo 2:11-15) nesse mesmo fundamento das diferenças criadas entre os sexos.

O testemunho bíblico sobre a bondade e imutabilidade do masculino e do feminino
Em toda a Bíblia, há um testemunho consistente sobre a bondade e a permanência das categorias criadas de homem e mulher. O sexo biológico é sempre a base da nossa identidade como seres humanos. Não existe, nas Escrituras, o conceito de gênero como uma identidade autodefinida e distinta da realidade corporal. A masculinidade e a feminilidade são vistas como algo belo, dado por Deus e imutável.
Isso se torna ainda mais notável quando consideramos o contexto histórico e cultural em que a Bíblia foi escrita. O mundo antigo não era alheio a práticas sexuais alternativas, como a homossexualidade. De fato, muitas das culturas ao redor do antigo Israel praticavam prostituição cultual que envolvia atos homossexuais (Deuteronômio 23:17-18). A sociedade greco-romana, por sua vez, celebrava a pederastia e as relações entre pessoas do mesmo sexo, especialmente entre homens.
Alguns podem argumentar que a visão binária da Bíblia sobre o sexo se deve apenas à falta de conhecimento dos autores sobre outras possibilidades — e que a compreensão moderna da distinção entre sexo e gênero seria um avanço mais “iluminado”. No entanto, essa alegação não resiste à análise. A Bíblia não é um documento simplista ou primitivo, mas uma coleção de escritos divinamente inspirados que atravessam séculos e diferentes culturas. Sua posição contracultural sobre a sexualidade humana não é sinal de ignorância, mas de verdade transcendente.
O fato de os autores bíblicos terem mantido esse testemunho mesmo em meio a culturas marcadas pela fluidez sexual é prova da origem divina de sua mensagem. Enquanto a compreensão cultural do gênero pode mudar e se adaptar ao longo do tempo, a Palavra de Deus permanece eterna e inabalável.
Construtos Sociais Modernos
A noção moderna de gênero como uma construção social que pode ser separada do sexo biológico é completamente estranha à cosmovisão bíblica. Ela não tem base alguma nas Escrituras. Embora as expressões culturais de masculinidade e feminilidade possam variar, a Bíblia não reconhece a existência de uma identidade de gênero fluida ou subjetivamente determinada. A visão bíblica, clara e consistente, sobre os sexos masculino e feminino traz implicações profundas: nossa identidade como homem ou mulher não é escolhida por nós mesmos, mas concedida por Deus. Não é uma imposição social, mas algo que remonta à própria Criação — e que não pode ser alterado pela vontade ou desejo humanos. Separar gênero de sexo biológico é dividir aquilo que Deus uniu desde o princípio.
Como cristãos, devemos resistir à tentação de adotar de forma acrítica as concepções modernas e seculares de gênero que contradizem as Escrituras. Precisamos ancorar nossa compreensão do que significa ser homem e mulher no testemunho unificado da Palavra inspirada de Deus. Somente assim poderemos celebrar e viver nossa identidade sexual de maneira que honre o nosso Criador.
Desviar-se do desígnio de Deus para o gênero e a sexualidade não é algo sem consequências. Quando uma sociedade abandona a compreensão bíblica da sexualidade e da ética sexual, ela começa a se desintegrar em seu nível mais básico. A família — que é o alicerce de qualquer sociedade saudável — se fragmenta e se torna instável. As crianças sofrem ao serem privadas da presença de um pai ou de uma mãe. O caos e a desordem sexual se espalham. E, em um nível espiritual mais profundo, as pessoas perdem progressivamente a noção do que significa ser feitas à imagem de Deus, tornando-se cada vez mais alienadas do Criador e de Seus propósitos.
A Bíblia nos adverte de que Deus julgará a imoralidade sexual (Hebreus 13:4; 1 Coríntios 6:9–10). A história também demonstra que civilizações que normalizam a devassidão sexual acabam por colapsar. Sodoma e Gomorra, os cananeus e até mesmo o poderoso Império Romano são exemplos do passado que revelam o que acontece quando uma cultura rejeita os padrões divinos para a sexualidade humana.
O sexo biológico, conforme projetado por Deus desde o princípio, é essencial para a identidade humana, os relacionamentos e o papel que desempenhamos no mundo. Ele é a estrutura que nos permite viver a aliança vitalícia do casamento e participar da procriação e da formação de novas vidas. Homem e mulher não são categorias intercambiáveis ou moldáveis, mas vocações divinamente estabelecidas. As tentativas de redefinir ou dissociar gênero e sexualidade do propósito criativo de Deus só conduzem à confusão e à quebra interior.
Para experimentar plenitude, prosperidade e obediência fiel, precisamos abraçar e nos submeter ao bom desígnio de Deus. Em meio ao caos contemporâneo sobre gênero, que possamos ter a convicção de sustentar a beleza, a complementaridade e a santidade do plano original de Deus para o homem e a mulher.

Uma Palavra de esperança para aqueles que lutam
E quanto àqueles que sentem um descompasso entre seu sexo biológico e seu senso interno de gênero? Aqueles para quem o modelo bíblico de homem e mulher parece limitador ou até impossível de seguir? Há esperança e lugar para essas pessoas no desígnio de Deus?
Aos que enfrentam lutas nessa área, deixo as seguintes reflexões.
Antes de tudo, saiba que Deus o ama incondicionalmente. Seu amor e aceitação não dependem de você se encaixar perfeitamente nos papéis e identidades que Ele estabeleceu. Deus conhece as lutas e a confusão que você enfrenta. Como o salmista nos assegura: “Bondoso e compassivo é o Senhor, tardio em irar-se e grande em misericórdia” (Salmo 145:8).
Em Sua compaixão, Deus entende plenamente o mundo caído em que vivemos e a quebrantação que todos experimentamos de diferentes formas. Todos fomos marcados pelo pecado e travamos batalhas com nossos próprios “espinhos na carne” (2 Coríntios 12). Para alguns, o campo dessa batalha é justamente a identidade de gênero e a sexualidade. Mas Deus não se surpreende nem se afasta por causa disso — Ele deseja encontrá-lo em meio à sua dor.
O apóstolo Paulo testemunhou sobre a graça suficiente de Deus diante do seu próprio “espinho” persistente (2 Coríntios 12:7–9). O poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. Sua força e misericórdia brilham com mais intensidade quando nos sentimos quebrados e sem forças. Leve suas lutas a Ele em oração sincera e constante. Apoie-se em Suas promessas: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Romanos 10:13) e “aquele que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6:37).
Sentir desejos ou emoções contrários ao desígnio de Deus não significa que não temos escolha a não ser segui-los. Com o poder de Deus, podemos submeter nossas experiências e identidade ao Seu senhorio. Como Paulo exorta em Romanos 12:2: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Essa submissão e renovação é um processo contínuo, sustentado pela presença do Espírito Santo. Mesmo que seus sentimentos sobre seu gênero ou comportamento nunca se alinhem completamente com seu sexo biológico, ainda assim você pode escolher viver em obediência à ordem criada por Deus, pela fé. Ore diariamente para que o Espírito Santo o preencha e molde sua identidade cada vez mais à imagem de Cristo. Cerque-se de irmãos e irmãs em Cristo que o amem, apoiem e intercedam por você. Espere no Senhor, confiando que, um dia, Ele trará seu ser ressuscitado à perfeita harmonia por toda a eternidade.
Em tudo isso, mantenha os olhos fixos em Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12:2). “Fiel é aquele que vos chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5:24). Você não caminha sozinho — há um Salvador que nunca o deixará nem o abandonará. Descanse em Seu amor, apoie-se em Sua força e confie que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).
Por fim, lembre-se: sua verdadeira identidade não se encontra no seu gênero, mas na sua união com Cristo. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:27–28). Em Cristo, você é uma nova criação — amado, completo e restaurado.
Sam Neves, Diretor Associado do Departamento de Comunicação da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia








